Belém | Onde comer
Tudo que reina em Belém é intenso e encantador. As mangueiras que enfeitam a cidade, a simpatia das pessoas e a rica culinária que vem com frutas únicas, peixes, temperos e aromas, é exuberante, principalmente para quem ama, respeita e respira gastronomia como a gente, a cidade é um prato cheio de cultura alimentar, tradição e boas doses de sabor. Foram cinco dias de pratos fartos e descobertas, espero que gostem da nossa seleção de: Onde Comer em Belém
Mercado Ver-o-Peso
A princípio foi um choque: “Esse é o Ver-o-Peso”?, rs na minha humilde cabecinha ele era no estilo do Mercado Central de Belo Horizonte ou até parecido com o Mercadão de SP, mas vivendo, descobrindo e amando, divido ele em um mercado e uma gigantesca feira ao ar livre. O mercado/feira pra mim é um dos mais incríveis que já conheci. Passei horas rondando e voltei mais umas três vezes depois.
Acredito que o coração da cidade pulsa ali, onde os ingredientes mais incríveis que podemos encontrar está a nossa disposição: jambu, mandioca brava, tucupi, pimentas, castanhas, açaí, bacuri, farinhas a rodo, pirarucu, filhote, camarão rosa, camarão seco e alguns ingredientes que até hoje estou tentando identificar. Um caos organizado, estruturado e bem dividido.
Peixes e frutos do mar permanecem na parte coberta do Mercado, onde toda a estrutura é voltada para o comércio de peixes para todas as regiões do estado. Encontrei peixes que nunca havia visto, peixes que de filhote só tem o nome e um universo de frutos do mar.
Saindo da parte fechada do Mercado, na lateral tem a parte das frutas e das polpas e sucos naturais. Na parte da frente estão as benzedeiras com suas porções, ervas, loções e óleos que curam a vida, desde dor de barriga até dor de amor não correspondido.
Seguindo dentro da feira, encontramos as barraquinhas com os ingredientes secos. Peixes secos, pimentas, castanhas, farinhas, feijões e tudo o que você possa imaginar, ao lado na parte de cima está as barracas de comes e bebes mais ‘organizadas’ seguindo dentro da feira encontramos também as barracas de comidas, sucos, salgados e afins.
Box da Lúcia – Número 37
Caminhando pela feira pergunte onde tem o melhor peixe frito com açaí e escute: Box da Lúcia, mais de cinco vezes. Foi para lá que a gente se aprumou e fizemos nossa primeira refeição paraense na cidade. São vários box com mesinhas e balcão, onde você acompanha todo o preparo dos pratos e fica lado a lado com as cozinheiras. Pedimos uma Tijuca, cerveja pilsen mais comercializada na cidade (boazinha para o calor) e o tal Peixe com Açaí. Para a minha surpresa o prato acompanha arroz branco, feijão com um dos melhores temperos do universo, o peixe empanado e frito, tapioca granulada e uma tigela de açaí na sua melhor forma: puro.
Esperava mais do açaí no quesito tempero na primeira colherada, mas depois que provei junto com o peixe tudo fez sentido. Lúcia é um encanto em pessoa e guarda seus segredos culinários a sete chaves. No balcão tem um molho verde desses bem aromáticos e que eu comeria com tudo, tentei adivinhar os ingredientes, mas sem sucesso. (por enquanto)
Resumindo: Comida gostosa, caseira, aromática e acessível. Isso tudo, mais cerveja deu cerca de R$38. *Dica: No balcão é muito bom, mas é mais quente. Então se ajeite perto dos ventiladores 😀
Av. Blvd. Castilhos França, 234 – Reduto, Belém.
Lá abre por volta das 10h e fecha às 15h e aceita cartões.
Portinha
O nome do estabelecimento descreve perfeitamente o ambiente: uma portinha, com um balcão, uma estufa, três mesas, comida boa e simpatia. A aparência simples disfarça o tesouro que vende ali: as melhores esfihas que já provei na vida. São salgados que você não entende o estardalhaço e o sucesso, mas, meus queridos, na primeira mordida você deixa de entender e só quer comer, mal terminou o primeiro salgado já está desejando o segundo e é vida que segue.
Ao todo, são doze tipos de quitutes assados, que se destacam pelo uso de ingredientes regionais e que ficam a disposição na estufa. A folha de jambu e o queijo cuia, por exemplo, estão presentes na esfiha de pato e no pastel com bacon. Ali tudo tem um dedo regional, desde o suco, o molho de pimenta de cheiro (delicioso) até os pratos que eles servem lá como o Tacacá. E para quem não dispensa uma sobremesa, eles vendem pedaços de torta de chocolate com recheio de cupuaçu.
Rua Dr. Malcher, s/n e sem placa – Cidade Velha
Telefone: (91) 9115-2222 – Não aceita cartões (somente dinheiro)
DETALHE: Só abre de sexta a domingo, das 17h às 22h.
Saldosa Maloca
Localizado na Ilha do Combú, o restaurante fica às margens do Rio Guamá, próximo à capital paraense. A Ilha é considerada um pedacinho da Amazônia e o melhor, fica há poucos minutos de barco de Belém (cerca de 15 min). Saímos da Praça Princesa Isabel, no bairro Condor, onde, todos os dias saem barcos de pequeno porte para a travessia no valor de R$5. A experiência de atravessar o rio para um almoço é maravilhosa. Fomos em uma segunda-feira e estava bem tranquilo, começamos aproveitando os drinques da casa que levam frutas nativas da região. Para quem gosta de banho de rio vale a pena curtir mais o espaço, que conta ainda com atividades de lazer, como trilhas ecológicas e área kids.
O Saldosa Maloca está em funcionamento há mais de 36 anos na Ilha e fica aos cuidados de Prazeres Quaresma, uma encantadora e simpática mulher, boa de prosa. No cardápio, pratos típicos da região e muito peixe. Pedimos Peixe Boiando com camarão – (uma peixada das boas) com postas de filhote, camarão e ovos acompanhados de arroz branco e pirão. Comida simples, preparada na hora e riquíssima de sabor. Valeu a experiência!
Funcionamento: Sábados, domingos, segundas e feriados. Reservas: (91) 99982-3396/98148-8396
*BONUS: Filhas do Combú
Se forem até o restaurante Saldosa Maloca, estique e vá até as Filhas do Combú, isso acrescenta mais R$5 na travessia de barco, mas super vale a experiência. A Ilha do Combú não é um lugar apenas de lazer, próximo ao Saldosa Maloca, tem a casa da Dona Nena (Izete dos Santos) que produz chocolates 100% naturais e orgânicos e que são bem famosos nas mãos de renomados chefs. Tudo ali é artesanal e produzido nas propriedades da família que é cercada por pés de cacau e cupuaçu. Lugar lindo. Por ser uma Área de Proteção Ambiental (APA), as famílias convivem em harmonia com a natureza, no sistema de extrativismo. A maior fonte de renda na região ainda é o açaí, mas, para dona Nena e as Filhas de Combú é o cacau. O que antes era um complemento de renda, hoje transformou-se sua principal fonte.
Como já disse, todo o processo é artesanal, estivemos por lá e foi possível encontrar dona Nena com a mão na massa. A torra é feita no fogão da casa e a produção da pasta de cacau elas utilizam um moedor de carne. É incrível e muito saboroso o trabalho que, além de comercializar derivados do cacau como o chocolate, nibs de cacau, cacau em pó, brigadeiro, por lá encontramos também: licor de açaí, geleias de cupuaçu e bacuri. Voltamos com a sacola cheia 🙂
Chocolate artesanal da Dona Nena (Filha do Combu)
Tel.: (91) 9 8873-5284 / 9 9616-0648 | combuorganico@gmail.com
Como chegar: O embarque para a Ilha do Combu, é na Praça Princesa Isabel, em Belém.
Remanso do Bosque
O único lugar que estava planejado em nossa ida a Belém era uma passagem pelo Remanso do Bosque, restaurante dos irmãos Castanho (Thiago e Felipe), aberto em 2011, e que segue o legado da família com a boa gastronomia. Não fizemos reservas, chegamos por volta das 11h30 e logo na entrada nos deparamos com um Empório (Mercearia) que é praticamente uma lojinha com ingredientes e produtos da culinária paraense, cachaça de jambu, geleias, doces, farinhas, pimentas e até os chocolates da Dona Nena. O restaurante é de total bom gosto, lugar acolhedor e bem charmoso. Mas como fomos para comer, rs nossa escolha para petiscar foi linguiça! Sim, na terra do pescado.
Como bons mineiros concordamos que linguiça artesanal de porco com jambu, acompanhada de pão caseiro e de molho de tucupi e mel era uma ótima escolha entre as entradas do Restaurante. O efeito do jambu no preparo do prato chega a ser bem suave e a combinação dos sabores com o tucupi é sensacional. Pedimos também, camarão empanados na tapioca com maionese de chicória. (PAH!, lembra um dos segredos do tempero do Box da Lúcia? Yes! Era chicória – quase chorei de emoção).
De prato principal Tambaqui do Amazonas assado na brasa com purê de abóbora assada e tropeiro de feijão caupi e Arroz cabloco de frutos do mar e do Rio – uma das receitas mais antigas da família e que leva camarão, mexilhão, caranguejo, peixe, lula, arroz, leite de coco e feijão caupi. Tudo muito rico e delicioso. Para acompanhar Cerveja Artesanal Mango da casa e um drinque chamada Tanacachaça, de sobremesa Crumble de banana com castanhas do Pará e sorvete de tapioca que estava dos deuses.
O Remanso do Bosque tem como bandeira a culinária de raiz e respeito aos ingredientes, já foi considerado o 44º melhor restaurante da América Latina na premiação The World’s 50 Best Restaurants Latin America’s (2016) sendo a única casa brasileira fora do eixo Rio – São Paulo.
Ficamos mais ou menos três horas no restaurante e saímos de lá bem agradecidos pela experiência. Nossa conta deu aproximadamente R$338,00 e valeu cada centavo.
Av. Rômulo Maiorana, 2350 – Marco, Belém – PA.
Instituto Iacitatá
O Instituto Iacitatá é um Ponto de Cultura Alimentar, um centro de pesquisa e formação em cultura alimentar em defesa da vida da Amazônia e este também é um dos lugares que você DEVE conhecer em Belém. Localizado na Cidade Velha, o espaço funciona em um grande casarão e fica aos cuidados de Tainá Marajoara
Mandei mensagem um dia antes, perguntando se eles iriam servir almoço e reservei. Chegamos lá de mala e tudo para um almoço rápido, pois logo estaríamos voando para Belo Horizonte. Me arrependi profundamente em não ter ido antes e aproveitado a prosa com Taína. No Instituto tem um empório com alimentos bons, limpos e justos, de produtores locais e da agricultura familiar: Mel de abelhas Nativas do Povo Sateré-Maué, Farinha d’água do Mestre Bené, Queijo do Marajó do queijeiro Peua, Guaraná em pó entre outros ingredientes.
A comida é do dia, a salada é cortada na hora e todo o preparo é artesanal e como reforça no cardápio: “Coma sem culpa, aqui não se come venenos! Nossa cozinha é livre de agrotóxicos, transgênicos, corantes, conservantes, saborizantes e demais produtos sintéticos e artificiais”
Pedimos Pyra (Filhote passado na farinha de carimã e chapeado na banha de porco) e Poty (camarão rosa) de acompanhamento Lundu (arroz e feijão com linguiça suína Chicario), Micau (banana cozida e amassada – semelhante a um purê de banana) e Tacarana (arroz com jambu moído, chicória, alfavaca, alho e tucupi). E a salada da casa que é feita com o que tem disponível no dia, teve jambu rosa, mamão, rabanete e mel e para beber suco natural de cupuaçu e de bacuri. Os pratos vem lindamente servidos em cumbucas.
Comida boa, daquelas que a gente come e se sente abraçado, foi uma das melhores experiências que tivemos em Belém, onde foi relacionado conhecimento e comida. Os pratos ficaram entre R$39 e R$55, os sucos variam entre R$6 e R$8 e ainda comprei alguns produtos como: o Mel (R$22), Queijo (R$28), Guaraná em pó (R$12).
Almoço de Terça a Domingo, das 12h às 15h. Trav. Padre Champagnat, 284. Largo da Sé, Cidade Velha. Belém.