Olimpíadas na Cozinha em: cada dia um 7×1 diferente
As Olimpíadas já chegaram, mas a minha vida ainda continua sendo igual à Copa do Mundo: cada dia um 7×1 diferente.
Vão à minha casa fazer jantar, mas não tenho prato fundo para a sopa. Compro um vinho para impressionar, mas faltam as taças adequadas. A lata de doce-de-leite, que seria a sobremesa perfeita para encerrar um primeiro encontro, não pôde ser aberta devido à ausência de abridor.
– Ultimamente, nos meus romances, tenho passado mais vergonha que o Eduardo Paes dando entrevista sobre Rio 2016 –
Na minha cozinha faltam potes, xícaras, talheres, taças, facas, fôrmas e até um forno, já que moro num flat e meu fogão é acoplado em um frigobar. São quatro bocas e nada mais.
Minhas panelas já têm mais de 10 anos e o jogo de pratos menos de 6 peças (foram quebrando ao longo da vida). Fazendo uma comparação bem atual, minha casa está para um cozinheiro assim como a Vila Olímpica está para a delegação da Austrália.
Inabitável. Incozinhável. Imprestável.
Tenho tão poucos utensílios que até topei o desafio de ir a 25 de Março em um sábado de manhã para comprar bugigangas para rechear meu armário.
Que erro!
1.000.000 de compradores se amontoando por 500.000 lojas e barraquinhas desorganizadamente dispostas entre a Ladeira Porto Geral e a Avenida Prestes Maia. Um ambiente tão hostil quanto à baia da Guanabara poluída é aos velejadores olímpicos.
Se os quarteirões fossem ao menos separados por tipo de produto, eu não precisaria ficar quatro horas sofrendo, suando e sendo empurrado para comprar uma única colher de pau. Porque, de toda a minha lista de 42 itens necessários, foi bem isso a única que eu consegui achar. Uma porcaria de colher de pau.
Enquanto eu procurava (e não achava) minhas taças, facas e fôrmas, daria tempo da Alemanha fazer mais uns 5 gols.
– Entrei numa loja de utensílios, mas os pratos brancos haviam acabado. Gol da Alemanha!
– As taças de vinho branco estavam com um mau acabamento? Mais um gol da Alemanha!
– Faqueiro com 5 itens, para cortes de peixe a boi, custando R$349,90! Chora, David Luiz.
– Tentativa de furto enquanto eu andava de um lado para o outro. Haja coração, Galvão Bueno.
Resumindo minha manhã frustrada na 25 de Março: um Parque Olímpico inteiro de dor de cabeça.
Estressado e faminto, desisti da cozinha e fui encher meu estômago no único local humanamente disponível de toda a vizinhança: o Mercado Kinjo Yamato.
O primo japonês renegado do Mercadão Municipal (sempre entupido de turistas), lá você consegue almoçar barato e fazer a feira sem ser encochado por metade da população que está vindo ao Brasil assistir às Olimpíadas.
E o melhor: fica ali do outro lado da rua, a uma faixa de pedestre (inexistente) de distância. Lá você tem a chance de descobrir o que é o melão-de-São-Caetano, comprá-lo a R$ 8,00 o quilo e ainda fazer gracinha com o aspecto fálico da planta.
Tudo isso em um lugar limpo e organizado, inaugurado em 1936 e cuja cobertura (que veio da Escócia) é tombada pelo patrimônio. Medalha de Ouro para o Kinjo Yamato!
Angelo Lameu, 29 anos.
Um mineiro em São Paulo
Mercado Kinjo Yamato
R. Barão de Duprat, 400 – Centro, São Paulo – SP