Comunidades Norte Mineiras e sua gastronomia

Comunidades Norte Mineiras e sua gastronomia

Chef e ribeirinhos compartilham técnicas em experiência gastronômica pela comunidade Vazanteira, na região do alto-médio São Francisco.

Os povos que têm a vida ligada ao Rio, que observam as cheias que retiram o sustento da pesca, da agricultura e da criação de animais. Que cultivam milho, feijão e outros alimentos através da agricultura familiar.

Caracterizados por diferentes grupos, as comunidades do norte mineiro formam uma identidade sertaneja, em que o posicionamento político trava uma luta pelo direito a terra e a reforma agrária, principalmente no bioma do cerrado.

O chef de cozinha, Danilo Simões Coelho viajou até a comunidade Vazanteira da ilha do Jenipapo, na região mineira do alto-médio São Francisco, onde habitam as ilhas e os barrancos de rios como o São Francisco, Tocantins e Araguaia e teve a oportunidade de cozinhar lado a lado com os ribeirinhos através do Centro de Agricultura Alternativa (CAA).

“Pude ver os costumes e técnicas gastronômicas desta comunidade. Eles se alimentam principalmente do que o Rio São Francisco oferece, os seus peixes, e utilizam ainda a abóbora e a batata doce que cultivam e outros produtos extrativistas como o umbu que utilizei em uma das receitas que fizemos juntos.”, descreve Coelho.

Para o chef, a identidade sertaneja se caracteriza no interior do Brasil e principalmente na região do cerrado. “O surgimento de um discurso eugenista surge junto com a resistência de intelectuais como o antropólogo Darcy Ribeiro, que descrevem a pluralidade do Brasileiro que passa pelos caboclos amazônicos, caipiras paulistas e o sertanejo da caatinga e do cerrado. Mostrando a mestiçagem como uma riqueza e força da nossa identidade nacional”, explica.

As comunidades norte mineiras extrativistas como a dos Vazanteiros, os Catingueiros e os Geraizeiros estão inseridas nesta diversidade cultural brasileira e têm costumes gastronômicos diferenciados em cada grupo, segundo Coelho, eles aproveitam o que a natureza proporciona e o que o extrativismo põe a mesa.

“Temos muito a aprender com estas comunidades”, destaca o chef que completa, “Acredito que a troca de experiência entre Chefs de Cozinha, comunidade agrícolas e extrativistas brasileiras podem trazer benefícios para todos e criar uma cadeia produtiva diferente”.

“Experiência prazerosa e enriquecedora.”, revela o chef.

Danilo Coelho garante: “passar o dia cozinhando com a comunidade quilombola e aprender tanto e poder mostrar um pouco da minha experiência foi gratificante”.  De aprendizado o chef trouxe na bagagem como eles preparam os peixes na região. “Eles têm como costume, mesmo em peixes de escama tirar toda a pele e retalhar todo o peixe para quebrar os espinhos”, revela o Chef que também aprendeu com os ribeirinhos suas técnicas para preparar o peixe seco que é uma ótima forma de conservação.

“Aprendi com eles suas técnicas e deixei pra eles algumas, como por exemplo, deixar o espinho do dourado aparente facilitando o consumo, como aproveitar as frutas do cerrado para molhos e também na composição de purês e musselines.”, conta o chef.

Para Coelho, a valorização destas comunidades e de produtos extrativistas é a melhor forma para a conservação dos biomas. “Nestas comunidades temos a oportunidade de conhecer toda a riqueza brasileira através da criatividade dos nossos cozinheiros ribeirinhos”, finaliza.

 

Receita de Piau Vazanteiro – Chef Danilo Simões Coelho 
Matéria produzida para o Territórios Gastronômicos do Chef Eduardo Avelar
Fotos: Arquivo pessoal Danilo Simões Coelho

Referências:

 LITTLE, Paul E. Territórios sociais e povos tradicionais no Brasil: por uma antropologia da territorialidade, in: Série Antropológica. Brasilia: Unb, 2002.
RIBEIRO, Darcy. Os Brasileiros: Teoria do Brasil. 6 ed. Petrópolis: Vozes, 1981.
LESSA , Simone N.  Identidade Sertaneja e Meio Ambiente no início do século XXI