Quem Mexeu no meu (pão-de-) queijo
Pode parecer piada, mas me considero um grande defensor das tradições gastronômicas de Minas Gerais. Nesse aspecto sou muito conservador, e afinal de contas, a comida mineira tende a ser bastante tradicional.
Bela, recatada e do lar (precisa lembrar a gente da casa da avó, oras!)
Sem muita invencionice. O arroz se mistura com o feijão, o tutu com a couve, a cachaça com qualquer coisa, mas o pão-de-queijo deve permanecer intocado.
Toda vez que alguém recheia um pão-de-queijo na minha frente eu me pergunto: POR QUÊ, MEU DEUS? PRA QUE ISSO? POR QUEEEEEEÊ?
Quer recheá-lo? Que o faça com mais queijo. Queijo Minas, de preferência.
Quer ser ousado? Use derivados do leite, como requeijão ou polenguinho.
Estive por uns dias, de férias, em Minas e cedi à pressão de conhecer a tal A Pão-de-Queijaria. Muitos amigos fizeram propaganda e fui ao local mais por curiosidade do que pelo estômago, já que para mim é inadmissível sujar a entidade máxima da cozinha mineira com abobrinha ou pernil suíno.
Me senti um alienígena, mesmo estando no coração de BH, ao entrar na loja: os demais mineiros ali presentes pareciam aprovar esse sacrilégio!
Mas como minha fome fala mais alto que meu orgulho, e tudo estava com uma cara muito boa, cedi à gourmetização do pão-de-queijo e pedi um “hambúrguer mineiro”. Afinal de contas, se eu já comi até aquela massa murcha e sem sal que o Starbucks chama de pão-de-queijo, por que não experimentar esse?
“Talvez os mineiros possuam essa liberdade poética para contaminarem o pão-de-queijo com outros sabores”, pensei na hora, tentando justificar minha recaída.
Duas mordidas e pronto: estava vendido. Estava muito bom!
Não sabia lidar com a situação, mas eu realmente estava curtindo aquilo. Um baita de um sanduíche gostoso, apesar do preço salgado (R$15,60 – R$20,60 com acompanhamento) e de tudo ser invencionice ali (nada me lembrava minha avó servindo o café da tarde na cozinha simples da casa dela).
Além do recheio não ser só queijo, a manteiga era de café e o ketchup de goiabada. E antes de tentar entender o sabor de goiabada e processar essa informação, uma simples pergunta:
Por que alguém passaria ketchup em um pão-de-queijo? POR QUÊ, MEU DEUS? PRA QUE ISSO? POR QUEEEEEEÊ? Juro que se um dia eu ver algum de vocês fazendo isso, eu corto relações, bloqueio no meu Facebook e paro de seguir no Instagram.
Agora, estando de volta a São Paulo, estou criando coragem para ir à padaria portuguesa B.lem, aonde se vende um tal de “Pão-de-Queijo da Serra da Estrela”. Além de ser uma padaria famosa aqui em Sampa, tudo parece ser muito delicioso (apesar do desnecessário nome metido à besta, “Portuguese Bakery”, desse jeito em inglês mesmo).
De toda forma, se eu não curtir a tradução lusitana do nosso pão-de-queijo, vou me vingar deles recheando pastéis de nata com tutu de feijão apimentado e oferecer lá na Embaixada de Portugal.
Só não me convidem para ir conhecer O Melhor Pão-de-Queijo do Mundo, casa paulistana que lançou esse mês pães-de-queijo fitness, com altas taxas de proteína e baixas de caloria.
Não julgo quem gosta, afinal gosto não se discute e há muita demanda para essa gororoba, mas esse cardápio não me pega.
– Senhor, aceita um pão-de-queijo sabor frango com batata-doce?
– Óbvio que não. Olha bem para mim, está escrito “MINEIRO” na minha testa.
– Mas senhor, além de ser multigrãos, ele não possui glúten nem lactose.
– E sabor? Pelo visto também não deve ter.
Pão de Queijaria (BH)
Rua Antônio de Albuquerque, 856 – Savassi
B.lem (SP)
Rua Afonso Braz, 400 – Vila Nova Conceição | Shopping Vila Olímpia, piso térreo | Rua. Dr. Virgílio de Carvalho, 167
O melhor pão de queijo do Mundo (SP)
Rua: Alameda Lorena, Jardins 1655
Angelo Lameu, 29 anos.
Engenheiro de Produção
Um mineiro em São Paulo.
Você pode gostar de: Pão de queijo recheado com lombo 🙂
Para unir as receitas: Desfie o lombo e cozinhe mais um pouco com uma cebola cortada em rodelas e fundo de legumes. Acerte o tempero se necessário e deixe reduzir um pouco o líquido. Depois é só cortar o pão de queijo e ser feliz