Chefs levam boas recordações ao paladar de idosas de BH

Chefs levam boas recordações ao paladar de idosas de BH

Matéria produzida pela Frente da Gastronomia Mineira

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Com o apoio da Frente da Gastronomia Mineira, projeto de professores e alunos da UNA “Resgate Gastronômico e Memórias Gustativas: Velhos Amigos” é colocado em prática em casas de longa permanência da capital

Dona Antônia* (76) aguardava ansiosa, sentada em uma cadeira de balanço na varanda da casa, o almoço ficar pronto. A ansiedade dela não estava relacionada à fome, mas à expectativa de provar um prato que remetia à lembrança da época de solteira, quando sua mãe fazia maxixe refogado, arroz e carne de panela.

Quem preparava o prato para ela era o chef de cozinha Eduardo Ribeiro, que, na manhã daquele sábado, somava-se ao grupo de 15 chefs que cozinhavam, de forma personalizada, o almoço para as idosas de um instituto de longa permanência de Belo Horizonte.

Esta foi a primeira ação do projeto “Resgate Gastronômico e Memórias Gustativas: Velhos Amigos“, idealizado por professores e alunos do curso de Gastronomia do Centro Universitário UNA. Com a parceria da Frente da Gastronomia Mineira, o projeto visa, além de proporcionar um dia especial nos lares de idosos, resgatar pratos, combinações e a memória alimentar de pessoas da terceira idade.

“O interessante é que muitos idosos com os quais tivemos contato possuem doenças degenerativas relacionadas à memória e, quando entramos no assunto da gastronomia, eles possuem memórias riquíssimas de como acontecia a vida em torno da mesa deles”, explica o coordenador do projeto, Adriano Vilhena, chef e professor.

O projeto está sendo ampliado e agora fará parte dos programas de extensão da UNA. “Essa medida torna o projeto institucional. Cerca de 80 alunos, de diversos cursos, estão envolvidos, colocando-o em prática a todo vapor. Contando com as próximas ações, devemos atingir cerca de 100 idosos”, diz Adriano, destacando também que, “além de reafirmarmos nossos costumes gastronômicos, a ideia é formar parcerias para lançar livros e documentários, mantendo vivas nossas tradições”, completa.

O primeiro contato

“Estamos limpando as vistas hoje”, disse uma senhora se referindo ao grupo masculino de chefs. “Já vi que tem algumas mulheres no grupo, mas tem mais homem. Dizem que homem na cozinha é melhor que nós, mulheres. Vamos conferir hoje”, brincou Dona Nazaré* (66).

O chef Fernando Assis fez questão de seguir a receita de sua mãe para preparar o que Dona Maria de Loudes* (71) queria: frango cozido e frito com macarrão ao molho vermelho. Para ele, foi extremamente gratificante ver a carinha de satisfação de sua “cliente”.

Para Cidinha Lamonier, foi um dos momentos mais especiais que já viveu em 14 anos de profissão. “Fiz a alegria da Dona Eliza*, de mais de 80 anos, com a combinação de frango refogado, legumes e purê de batata. Coloquei muito carinho no preparo deste prato e recebi a felicidade dela de volta”, contou emocionada.

A chef Marcella Paternostro cozinhou para Dona Júlia* (72), que pediu salpicão com uva-passa, azeitonas preta e verde, ervilha e cebola bem batidinha. No momento em que foi servida, ela não exitou em pedir talheres mais apropriados à degustação do prato. “Hoje não vou comer de colher. Jeane, traga um garfo pra mim, por favor, vou me esforçar”.

Algumas senhoras da casa de longa permanência não puderam participar em decorrência de dieta com restrição alimentar. Os pedidos dos pratos personalizados foram do tradicional mineiro – frango caipira com angu – à cozinha internacional como massas e guisado de bacalhau. Dona Elvira* (72) disse que, naquele dia, não queria comer arroz e feijão. “Tem muito tempo que estou com vontade de comer um bacalhau bem feitinho. Chegou a hora”, disse entusiasmada.

Ao se depararem com os pratos prontos, devidamente preparados por profissionais da cozinha, a fisionomia de surpresa foi unânime: “Minha Nossa Senhora, que coisa linda”, disse uma senhora. Para o chef Avelar, olhar para o prato vazio da maioria delas foi indescritível. “Nada melhor do que poder proporcionar um dia diferente para elas, mexer com a rotina, satisfazer um desejo”, ressaltou o chef Jaime. “Essa é a essência da gastronomia: cozinhar para servir, levar amor e carinho”, completou o chef Bruno Guimarães.

A segunda ação do projeto Velhos Amigos será realizada na primeira semana de junho, em duas instituições de longa permanência de Belo Horizonte. “Nosso projeto sempre será em construção coletiva e, quem quiser ajudar e dar sugestões, estamos totalmente abertos”, explica o coordenador Adriano Vilhena.

*Os nomes das senhoras atendidas pelo projeto foram modificados a pedido da instituição de longa permanência.