Expedição "Grande Sertão Veredas"

Expedição “Grande Sertão Veredas”

“(…)Minas da saudade, do queijo, do tutu, do milho e do porco,
do angu, do frango com quiabo (…)”

O ano era de 1952. Guimarães Rosa, aos 44 anos trocava seus trajes rebuscados de diplomata da cidade grande por uma jaqueta e chapéu de couro, de quem vive no interior. O escritor da famosa obra Sagarana voltava à sua terra natal, a pequena Cordisburgo em busca de inspiração para uma nova obra. A pacata cidadezinha a 114 km de Belo Horizonte fez sua parte, e generosa de terras quentes, presenteou Rosa com um sertão: “onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador;”. Voltar para sua terra lhe proporcionou uma das obras mais encantadoras e reconhecidas: “Grande Sertão: Veredas”. E é inspirados nela que embarcamos junto de outros amantes da gastronomia em uma expedição pelo Cerrado Mineiro, um pedaço de terra desconhecida (pelo menos por nós), de sorrisos leves, de comida afetuosa e de gente como a gente.

Entramos nesta viagem à convite do Circuito Gastronômico da Pampulha, que traz a obra do autor como tema do Festival 2018, que ocorre entre os dias 10 de setembro e 27 de de outubro. Realizado há oito anos na capital mineira, na região da Pampulha, esta é a primeira vez que os organizadores pegam a estrada em uma expedição gastronômica.

A viagem pelo sertão mineiro foi pensada e planejada em torno do tema que é repleto de peculiaridades, histórias e curiosidades sobre a cultura popular e a cultura alimentar mineira. Acompanhe nossas redes sociais e viaje com a gente por essas terras.

Cozinha

Cozinha Guimarães Rosa

A cozinha é o coração da casa, disso temos certeza. É dela que sai o alimento que dá força, encoraja, preenche e alivia. E é da cozinha de Guimarães Rosa que começamos a compartilhar nossa viagem. Localizada em Cordisburgo, a casa construída em fins do século XIX e princípios do XX, hoje abriga o Museu Casa Guimarães Rosa, um grande acervo da vida e obra do escritor que viveu por ali, desde seu nascimento em 1908 até os 9 anos de idade.

Uma moradia simples, com sala, quartos e cozinha, com fogão a lenha, mesa de madeira grande para compartilhar, louças e panos bordados a mão. Além dos cômodos, a casa conta com pequeno comércio na frente, reconstruído para representar a antiga venda de seu Fulô, Florduardo Pinto Rosa, pai do escritor.

O espaço que representa na sua essência o ar interiorano reserva memórias de uma época em que Joãozito ouvia as melhores histórias dos clientes do comércio do pai.

Bandeirinhas de Curvelo

Filé de Tilápia – Bar e Restaurante Zé Carlos Curvelo

Da casa de Guimarães Rosa, a expedição seguiu rumo a Curvelo, onde o Filé de Tilápia do Bar e Restaurante Zé Carlos veio para forrar o estômago. A viagem passou pela Basílica de São Geraldo e pela cooperativa Dedo de Gente, onde fomos recebidos pela Doralice, coordenadora do espaço.

A cooperativa foi criada em 1996, como resultado do aprendizado e do trabalho aprimorado por unidades de produção solidária – as fabriquetas, formadas e dirigidas por jovens do norte de Minas. Segundo a coordenadora do projeto, a cooperativa surgiu para gerar oportunidades para os moças e rapazes da cidade. O artesanato, de acordo com ela, era um pretexto para desenvolver as habilidades dos jovens, com o tempo a produção ampliou e hoje, além do artesanato em serralheria, marcenaria, bordado e gastronomia, os jovens podem escolher outros ofícios com os quais eles mais se identificam dentro do projeto, como o cinema, por exemplo.
Como o assunto aqui é comida, a gente se identificou bem com a produção de doces, licores e compotas. O que mais chamou atenção foram os mini-figos cristalizados – delicados de tal forma, que dava até dó de comer.

Doces da Cooperativa Dedo de Gente


“O real não está no início nem no fim, ele se mostra pra gente é no meio da travessia”.

Fogo

Uma segunda-feira longa, chegamos na Fazenda do Adalto no fim da tarde e foi aí que a mágica aconteceu. O jantar começou com mão na massa. Fogo de chão de brasa, cordeiro, leitoa e carne de sol. Mandioca, queijo e muita prosa. A noite foi caindo no sertão e o fogo é quem fez festa entre as brasas.

Chef Marcelo – Fogo de Chão, na Fazendo do Adalto

Jantar do dia – Fazenda do Adalto

Foto Renan Lameu/Ingrediente da Vez

… a vigem continua